domingo, 3 de abril de 2016

Mercado imobiliário: tem crise, Sergipe?

Por Tainah Quintela

Sempre existe aquela música que ouvimos pela primeira vez e não suportamos. “O santo não bate”. Mas de tanto ouvir (na rádio, na rua, nas festas, no trânsito, na vida), a melodia passa a soar doce em nossos ouvidos. Parece que “faz parte”. A crise é assim. Em Sergipe, não tem sido diferente. De tanto se falar em crise (na rádio, na rua, nas festas, no trânsito, na vida), sentimos que ela existe sim. E no mercado de imóveis daqui, ela chegou? Não dá para negar que aquele boom imobiliário já não estronda mais. Entre corretores, empresários, construtores e outros profissionais do setor, muito se ouve que “está difícil”. Sim, o ritmo de vendas desacelerou. As instituições financeiras têm suas taxas e regras de financiamento bem assentadas numa roda gigante. Ora sobem, ora descem. E é nesse cenário de estagnação que surge espaço para um show de ofertas. Construtoras têm apostado em descontos especiais. Ganha o cliente, realizando um sonho; ganha a empresa, escapando de um prejuízo. Afinal, quem quer na sua conta produtos encostados na prateleira?
Para o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Sergipe (Creci-SE) e Diretor Secretário do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI), Sérgio Sobral, não é possível dizer que o mercado imobiliário em Sergipe conta com um grande estoque de imóveis não vendidos. Ele cita como exemplo o sucesso dos feirões de imóveis da ADEMI/SE e da CAIXA, ambos realizados no ano passado. E mais: atribui esse resultado às construtoras, incorporadoras e imobiliárias que são, em sua maioria, do próprio Estado. Além disso, essas empresas são de pequeno e médio porte e, segundo ele, já se adaptaram ao mercado local, com foco na venda de imóveis de até R$ 400 mil. “Podemos afirmar que o saldo de imóveis não faz parte de nossa realidade. O que acontece é que as vendas hoje não estão na mesma velocidade que estavam há dois, três anos. O mercado imobiliário está se estabilizando, são ciclos que acontecem no ramo imobiliário”, pontua o presidente.
O mercado imobiliário sergipano, bem como os demais do país, é analisado bimestralmente pelos presidentes dos CRECIs. A última análise, feita no final de fevereiro, rendeu uma informação pra lá de interessante: Sergipe está entre os três estados com mais vendas de imóveis, tanto no que diz respeito a lançamentos quanto de terceiros. Segundo Sobral, os imóveis de terceiros, inclusive, já ultrapassaram 52% das vendas no mercado brasileiro, conforme estudo nacional feito pelo SECOVI/SP. Mas afinal, em meio à crise (olha ela de novo!), por que os imóveis novos não ficaram estocados aqui em Sergipe? “Porque aqui nós temos uma classe média muito forte e as construtoras, incorporadoras e imobiliárias se adaptaram à cultura local. As classes C e D, cujo déficit habitacional já chegou a 82%, são as que mais compram imóveis, por exemplo, e essas empresas já detectaram isso. Somado a esses fatores, Aracaju é uma das duas capitais brasileiras que mais cresceram. Muita gente do Sul, de outras regiões e até mesmo de outros países vêm comprar, investir por aqui. Entre outros fatores, isso acontece em virtude da qualidade de vida que a cidade oferece, do clima favorável, das praias nativas, da mão de obra especializada e da hospitalidade das pessoas”, justifica o presidente do Creci-SE.
Um fato: as vendas de imóveis não estão na mesma velocidade de alguns anos atrás. Quer gostemos ou não da música que toca, o Brasil passa sim por dificuldades econômicas nos dias atuais, mas o que vemos é um mercado imobiliário se estabilizando. Os corretores de imóveis aqui certamente tem vivenciado uma correria tanto quanto os profissionais dos demais estados para garantir que os negócios continuem sendo fechados com ou sem crise. Muitos têm aproveitado para investir em aprimoramento profissional, como é o caso daqueles que aproveitaram a oportunidade de curso gratuito de Avaliação de Imóveis recentemente, promovido pelo Creci-SE. Ok, ok. Descontos, aprimoramento profissional... O que mais pode ser feito para que a economia sergipana não sofra tanto com a crise? Com o alto índice de demissões e o consequente endividamento daqueles que seriam ótimos clientes, algo precisa ser feito, certo? Há anos, o Sistema Cofeci-Creci vem apostando na busca por parcerias e investidores internacionais, divulgando as oportunidades que o país oferece. Entre os dias 15 e 18 de março, representantes de diversos CRECIs participaram da 26ª edição do MIPIM, o maior evento de investidores do mercado imobiliário, que aconteceu na França. Sobral representou Sergipe.
“O MIPIM é como uma escola. Nós participamos para aprender como está funcionando o mercado imobiliário mundial. Foram apresentados diversos projetos de desenvolvimento emplacados por empresas influentes de todo o mundo. Tudo isso é conhecimento, contato. Estamos fazendo um trabalho intenso para angariar investidores para o Brasil. A região Nordeste, que é a ‘bola da vez’, atrai a atenção de muitos empresários, afinal é uma região que conta com sol o ano todo, mão de obra farta, praias nativas e muitos outros fatores que favorecem os negócios”, frisou o presidente do Creci-SE, acrescentando que estiveram presentes 90 nacionalidades no evento.


Resumindo, a crise existe sim, mas independente dela, existem também alternativas. O mercado sergipano resiste. Ou melhor, os profissionais sergipanos resistem, seja através de descontos, seja através da busca por parcerias. Como disse o corretor de imóveis e palestrante Guilherme Machadoem seu portal, é nesse cenário mesmo de inflação e recessão econômica em situação delicada que entram em cena os profissionais que ousam desafiar o status quo e ser um desvio do padrão. De fato podemos acreditar que temos, especialmente em Sergipe, ótimas oportunidades de negociação. 

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Estresse e Depressão no Meio Acadêmico

Por Aline Souza

Para alguns, os problemas na universidade começam antes mesmo de estar nela. A tensão de passar no vestibular, de não “fracassar”, de agradar aos pais e à família, muitas vezes pode gerar uma cobrança excessiva em torno de si, levando o indivíduo a desenvolver um quadro de estresse crônico que, em alguns casos, pode chegar à depressão.

Preocupado em passar no vestibular e receoso quanto à educação que recebeu, ele passou a estudar a maior parte do tempo; quando não estava no curso pré-vestibular, estudava em casa, quase que ininterruptamente, já que não tinha nenhuma outra ocupação, além dos estudos. “Ele estudava muito, muito mesmo. Não tinha horário para descanso nem para o lazer. Então, ele começou a ficar mais afobado, falando coisas sem nexo e completamente sem noção de espaço. Só após meses notamos esse comportamento nele, um comportamento que só foi se agravando. No decorrer de uma semana, já com esse quadro de comportamentos estranhos, ele surtou”, conta Karla Santos, 24, técnica de enfermagem, a experiência vivida por um amigo de infância.

Segundo Karla, os sintomas apresentados após o surto eram relatos de perseguição e de ilusão: “Ele dizia que tinha um helicóptero que vinha buscá-lo. Você tá ouvindo um barulho de helicóptero? Tá descendo! Ele falava que tinha pessoas olhando pra ele, quando na verdade, só havia conhecidos e amigos. Certa vez ele estava comigo em casa e começou a falar de várias coisas ao mesmo tempo, de política, de religião, tudo sem o menor sentido. Às vezes a gente levava na brincadeira, querendo acreditar que era brincadeira, porque ele sempre foi muito brincalhão, mas nós sabíamos que ele estava doente. Só que é muito difícil pra um amigo chegar a uma mãe e dizer: olhe, seu filho está assim, assim... a gente não tinha essa coragem”.

            Quando a família veio perceber, ele já estava desesperado, não tinha mais controle. “Saía correndo de casa, parava o trânsito, correndo o risco de ser atropelado, sem saber onde estava. Foi aí que a mãe decidiu interná-lo”. Segundo a amiga, ele ficou internado por uma semana, tomando medicamentos controlados e foi diagnosticado com esquizofrenia. Muito embora ele não tenha nenhum histórico de igual natureza ou algo parecido.

            Agora, já passado esse transtorno, ele conseguiu seus objetivos, passou em dois vestibulares e dois concursos. Vive como uma pessoa normal com a medicação, sem a medicação ele corre o risco de surtar novamente. “Hoje ele está trabalhando em um dos concursos que passou e está no quarto período de Direito. Tem uma vida social, trabalha, estuda, viaja, se diverte. E de lá pra cá, nunca teve uma recaída. Ele se preserva muito, não se expõe a situações de muita tensão, que lhe possa apresentar riscos. A família e nós amigos temos toda essa preocupação, mas sem que ele perceba, pra não parecer uma superproteção. A gente quer que ele se torne uma pessoa ainda mais independente. Que ele perceba que aquela doença não tirou sua independência. E ele não deixou de ter os seus amigos”, concluiu Karla.

Em um estudo intitulado “Estresse e estressores na pós-graduação: estudo com mestrandos e doutorandos no Brasil”, realizado por André Faro, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe, o estresse é definido como um fenômeno psicossocial com repercussão biológica, que ocorre quando há a percepção de ameaça real ou imaginada, avaliada como capaz de alterar o estado de bem-estar subjetivo, provocando sensações de mal-estar, sofrimento e/ou desconforto transitório ou persistente. Ainda de acordo com o professor, além de impactar negativamente a saúde, o estresse prejudica o desempenho do estudante e pode levar ao desestímulo em relação à carreira acadêmica.

Foi o que aconteceu com um aluno de 22 anos da UFS, que prefere não se identificar. Para ele o estresse e desconforto foram provocados desde que percebeu que não “se encontrava” no curso. Para ele, de modo geral, as pessoas passam no vestibular sem saber como vai ser o curso, mas à medida que o tempo vai passando, os alunos vão se identificando e quando isso não acontece, tem coragem para assumir. No seu caso, ele relata que não possuía expectativas em relação ao curso e que no primeiro período se sentia muito bem. Porém, a partir do segundo período, quando começaram as disciplinas práticas, elas o incomodavam de algum modo, justamente por ele ter que lidar com a instabilidade que essas disciplinas representavam. "Foi a partir do segundo período que comecei a perceber que não me encaixava no curso, pelo menos numa parte dele. Mas não tive coragem de assumir, de trancar o curso, por exemplo, e repensar no que de fato queria. Encontrei no trabalho minha válvula de escape. Tranquei assim, as disciplinas práticas, usei o trabalho como desculpa. Eu sabia que do jeito que eu estava e como me sentia, essas disciplinas não iriam me fazer bem”, relata.

Embora se sentisse angustiado, ele continuou no curso. Até que chegou o momento de fazer o TCC e todas essas questões vieram à tona de uma só vez. Diante disso, ele chegou a desistir, mas voltou atrás em sua decisão. Agora segue fazendo o TCC e não pensa mais em desistir.

Segundo André Faro, alguns fatores que contribuem para um possível quadro de estresse e depressão é a cobrança excessiva, paralelamente com o aumento no nível de exigências em relação ao aluno e o baixo senso de autoeficácia.  O estudante está sempre na busca do bom desempenho, por ser cobrado constantemente, seja pelos professores ou colegas em sala de aula, seja pela cobrança que faz sobre si mesmo. Para Faro, a percepção de eficácia depende do quanto ele se acha capaz de realizar aquilo que ele pretende. “Muitas das vezes a dificuldade de adaptação é por ter uma visão discrepante da realidade. Por exemplo, há muita exigência por meio de leitura, talvez o nível e limite que essa pessoa tem, às vezes são muito baixos. Não é que seja excesso de exigência, mas às vezes, o nível de adaptação é muito frágil, que qualquer coisa ultrapassa ele”.

Para o psicólogo, a universidade é um meio favorável por lidar, em geral com indivíduo em fase de transição, onde eles saem, mais claramente, da adolescência para idade adulta. Em alguns casos, muitos deles ainda têm um comportamento infantil até entrar na universidade onde passam por um amadurecimento constante. “Até o ano passado muitos deles ainda estava estudando sete dias por semana, o dia todo em pré - vestibular e de repente cai na universidade, saindo de um universo quase infantil para um universo adulto. É um contexto que sobrecarrega”. Chegando à universidade o estudante tem de lidar quase sempre com conteúdos e situações nunca vivenciadas. Alguns simplesmente não conseguem desenvolver algumas competências e por diversas vezes acabam se frustrando. “O meio acadêmico não exige de você somente os conhecimentos específicos bem desenvolvidos, mas dentro da universidade se desafia mais a habilidade sócio emocional dos alunos; regulação emocional, capacidade de manter relacionamentos saudáveis e produtivos. Então, muitos não desenvolveram essas competências ao longo da vida e na universidade isso se torna mais evidente”.  

Ainda de acordo com Faro, rebaixamento do humor, choro fácil, isolamento social e agressividade são alguns dos sinais que antecedem a depressão. Mas, ele adverte que é necessário um diagnóstico clínico para que esses sintomas sejam categorizados como um quadro de depressão. “Nós temos a tríade da depressão, que envolve o baixo senso de autoeficácia, a falta de perspectiva em relação a si, os outros e ao próprio futuro”. O meio acadêmico é permeado por muita vaidade o que pode inibir o indivíduo a procurar ajuda, pois isso pode ser interpretado como um sinal de fraqueza. Ou, em alguns casos, a própria instituição não tem uma estrutura que acolha aqueles que precisam desse tipo de atendimento. “Na UFS tem esse serviço no Núcleo de atendimento que é coordenado por um psicólogo, mas poucos sabem que temos esse serviço aqui”, acrescenta André.

Estresse na Pós-Graduação

Um estudo feito por André Faro, sobre estresse e estressores na pós- graduação teve sua maioria, composta pelo sexo feminino, o que salienta o crescimento no número de mulheres tituladas no Brasil. O estudo revela que os pós-graduandos não possuíam filhos, embora mantivessem relacionamentos conjugais estáveis e possuíam uma média de 28 anos. A maioria dos participantes do Sul e Sudeste exibiu uma média de 29,1 de estresse, um valor acima do esperado, numa escala que vai de 28 a 56.  O valor de 29,1 se situa no estrato médio da escala, mas, bem próximo ao estrato considerado alto (entre 31 e 36 pontos).  As mulheres exibiram maior estresse em comparação aos homens, o que pode ser incrementado pela sobreposição de outras demandas sociais que são designadas às mulheres, que, por fim, tendem a sobrecarregar sua capacidade adaptativa. A relação vista para a renda foi que quanto menor, maior o índice de estresse.

         O estudo contou com 2.157 pós-graduandos no Brasil, entre mestrandos e doutorandos de 66 instituições, de mais de 100 programas de pós-graduação, com exceção de participantes do Piauí e Roraima. Foram 39 vinculados a universidades federais, 15 estaduais, 9 privadas e 3 institutos de pesquisa. Contou-se com representantes de todas as áreas do conhecimento da CAPES (Ciências Agrárias, Biológicas, da Saúde, Exatas e da Terra, Humanas, Sociais Aplicadas, Engenharias, e Linguística, Letras e Artes).

Ainda não se tem dados da quantidade de casos, mas nota-se uma maior visibilidade do assunto. Hoje já se tem um estudo com diagnóstico. Segundo Faro, a atenção ao assunto ainda é pouca, carece de pesquisa-diagnóstico, bem como do acompanhamento dessas pessoas. Mesmo sendo diagnosticado, pouco se acompanha. Faltam pesquisadores da temática. “Não tem tantos pesquisadores qualificados quanto se imagina. Muito se fala, mas pouco se pesquisa, efetivamente. Só é possível desenvolver um trabalho preventivo ou paliativo se tivéssemos a ideia da incidência. São pesquisas relativamente baratas, mas que demandam recursos” conclui o pesquisador.