Por Tainah Quintela
Sempre existe aquela música que ouvimos pela
primeira vez e não suportamos. “O santo não bate”. Mas de tanto ouvir (na
rádio, na rua, nas festas, no trânsito, na vida), a melodia passa a soar doce
em nossos ouvidos. Parece que “faz parte”. A crise é assim. Em Sergipe, não tem
sido diferente. De tanto se falar em crise (na rádio, na rua, nas festas, no trânsito,
na vida), sentimos que ela existe sim. E no mercado de imóveis daqui, ela
chegou? Não dá para negar que aquele boom imobiliário já não estronda mais.
Entre corretores, empresários, construtores e outros profissionais do setor,
muito se ouve que “está difícil”. Sim, o ritmo de vendas desacelerou. As
instituições financeiras têm suas taxas e regras de financiamento bem assentadas
numa roda gigante. Ora sobem, ora descem. E é nesse cenário de estagnação que
surge espaço para um show de ofertas. Construtoras têm apostado em descontos
especiais. Ganha o cliente, realizando um sonho; ganha a empresa, escapando de
um prejuízo. Afinal, quem quer na sua conta produtos encostados na prateleira?
Para o presidente do Conselho Regional de
Corretores de Imóveis de Sergipe (Creci-SE) e Diretor Secretário do Conselho
Federal de Corretores de Imóveis (COFECI), Sérgio Sobral, não é possível dizer
que o mercado imobiliário em Sergipe conta com um grande estoque de imóveis não
vendidos. Ele cita como exemplo o sucesso dos feirões de imóveis da ADEMI/SE e da
CAIXA, ambos realizados no ano passado. E mais: atribui esse resultado às construtoras,
incorporadoras e imobiliárias que são, em sua maioria, do próprio Estado. Além
disso, essas empresas são de pequeno e médio porte e, segundo ele, já se
adaptaram ao mercado local, com foco na venda de imóveis de até R$ 400 mil. “Podemos afirmar que o saldo de imóveis não faz
parte de nossa realidade. O que acontece é que as vendas hoje não estão na
mesma velocidade que estavam há dois, três anos. O mercado imobiliário está se
estabilizando, são ciclos que acontecem no ramo imobiliário”, pontua o
presidente.
O mercado imobiliário sergipano, bem como os
demais do país, é analisado bimestralmente pelos presidentes dos CRECIs. A
última análise, feita no final de fevereiro, rendeu uma informação pra lá de
interessante: Sergipe está entre os três estados com mais vendas de imóveis, tanto
no que diz respeito a lançamentos quanto de terceiros. Segundo Sobral, os
imóveis de terceiros, inclusive, já ultrapassaram 52% das vendas no mercado
brasileiro, conforme estudo nacional feito pelo SECOVI/SP. Mas afinal, em meio
à crise (olha ela de novo!), por que os imóveis novos não ficaram estocados
aqui em Sergipe? “Porque aqui nós temos uma classe média muito forte e as
construtoras, incorporadoras e imobiliárias se adaptaram à cultura local. As
classes C e D, cujo déficit habitacional já chegou a 82%, são as que mais
compram imóveis, por exemplo, e essas empresas já detectaram isso. Somado a
esses fatores, Aracaju é uma das duas capitais brasileiras que mais cresceram.
Muita gente do Sul, de outras regiões e até mesmo de outros países vêm comprar,
investir por aqui. Entre outros fatores, isso acontece em virtude da qualidade
de vida que a cidade oferece, do clima favorável, das praias nativas, da mão de
obra especializada e da hospitalidade das pessoas”, justifica o presidente do
Creci-SE.
Um fato: as vendas de imóveis não estão na mesma velocidade
de alguns anos atrás. Quer gostemos ou não da música que toca, o Brasil passa
sim por dificuldades econômicas nos dias atuais, mas o que vemos é um mercado
imobiliário se estabilizando. Os corretores de imóveis aqui certamente tem
vivenciado uma correria tanto quanto os profissionais dos demais estados para
garantir que os negócios continuem sendo fechados com ou sem crise. Muitos têm
aproveitado para investir em aprimoramento profissional, como é o caso daqueles
que aproveitaram a oportunidade de curso gratuito de Avaliação de Imóveis recentemente, promovido pelo Creci-SE. Ok, ok. Descontos, aprimoramento
profissional... O que mais pode ser feito para que a economia sergipana não
sofra tanto com a crise? Com o alto índice de demissões e o consequente
endividamento daqueles que seriam ótimos clientes, algo precisa ser feito,
certo? Há anos, o Sistema Cofeci-Creci vem apostando na busca por parcerias e investidores internacionais, divulgando as
oportunidades que o país oferece. Entre os dias 15 e 18 de março,
representantes de diversos CRECIs participaram da 26ª edição do MIPIM, o maior
evento de investidores do mercado imobiliário, que aconteceu na França. Sobral
representou Sergipe.
“O MIPIM é como uma
escola. Nós participamos para aprender como está funcionando o mercado
imobiliário mundial. Foram apresentados diversos projetos de desenvolvimento
emplacados por empresas influentes de todo o mundo. Tudo isso é conhecimento,
contato. Estamos fazendo um trabalho intenso para angariar investidores para o
Brasil. A região Nordeste, que é a ‘bola da vez’, atrai a atenção de muitos
empresários, afinal é uma região que conta com sol o ano todo, mão de obra
farta, praias nativas e muitos outros fatores que favorecem os negócios”,
frisou o presidente do Creci-SE, acrescentando que estiveram presentes 90
nacionalidades no evento.
Resumindo, a crise existe sim, mas independente dela,
existem também alternativas. O mercado sergipano resiste. Ou melhor, os
profissionais sergipanos resistem, seja através de descontos, seja através da
busca por parcerias. Como disse o corretor de imóveis e palestrante Guilherme Machadoem seu portal, é nesse cenário mesmo de inflação e recessão econômica em
situação delicada que entram em cena os profissionais que ousam desafiar o status quo e ser um desvio do padrão. De
fato podemos acreditar que temos, especialmente em Sergipe, ótimas
oportunidades de negociação.