terça-feira, 15 de março de 2016

A arte lagartense na ocupação de espaços públicos

Dayanne Carvalho

A banda lagartense Estúdio Box & Azulejo se apresentando no Sarau da Caixa D'água (Foto: Dayanne Carvalho)

Sempre envolvida em manifestações culturais históricas como as danças dos parafusos e das taieiras, Lagarto possui um amplo leque cultural. Especialmente, no cenário contemporâneo. Nos últimos anos, a cidade continua se classificando em excelentes posições nos concursos de poesia, tem se destacado no teatro, na música e, inclusive, no cinema. Nesta última categoria, Lagarto aparece em âmbito nacional e internacional – Bélgica – através do ator Kiko Monteiro, 36, no longa “A Pelada” do diretor Damien Chemin. No filme de teor cômico, Kiko atua como coadjuvante interpretando Douglas, o chefe de Caio, protagonista do longa. “Afirmo com convicção que nunca sonhei em fazer parte de um filme amador quiçá de uma produção do quilate de “A Pelada”. Mas o Douglas caiu em meus braços. Damien me deu de presente um coadjuvante”, relata Kiko.
Embora a cidade tenha recebido esse vislumbre por meio de Kiko, a maior parte das manifestações culturais estão acontecendo através de produções juvenis as quais estão rendendo conquistas à cidade. Os jovens estão dando um upgrade cultural em Lagarto através de movimentações sagazes no teatro, na poesia e na música.
Segundo o professor e membro da Academia Lagartense de Letras (ALL), Anselmo Vital, esse movimento ainda não acontece com a abrangência que professores e a sociedade em geral espera, mas já há motivo suficiente para andar feliz. Para ele, a principal razão para esse interesse por parte dos jovens em se mobilizarem culturalmente se deve à influência do boom tecnológico. Todo esse avanço, segundo ele, concorre para que o menino saia da caverna, para que o jovem saia do seu invólucro e ganhe coragem para conquistar outras fronteiras.
Em relação às contribuições educacionais que essas mobilizações trazem para a cidade, ele destaca: “Cada vez mais estreitar esse caminho muitas vezes íngreme, tortuoso, pedregoso que dificulta a gente mostrar a importância que existe na arte para o desenvolvimento do ser humano. Essas manifestações, juntas ou separadas, amenizam esse trabalho de mostrar que pela arte nós podemos ser melhores”.
Apesar disso, os jovens e demais colaboradores desse momento de glória não têm tido o apoio adequado. Segundo Danilo Duarte, músico local, os eventos culturais não existem pela prefeitura, mas partem quase sempre de iniciativas pessoais. Embora a maioria deles prefira expor sua arte de forma independente, eles acreditam que a prefeitura e demais instituições não se empenham em promover e incentivar mobilizações culturais na cidade. Anselmo acredita que essa ausência de incentivo está ligada à inflamação cultural que os administradores, de um modo geral, têm. Para ele, lamentavelmente, Lagarto é uma cidade em que quem chega ao executivo ou legislativo, geralmente, tem pouca afeição com a arte.
Para explicar a situação, a Diretora de Arte e Cultura da Secretaria Municipal da Cultura, da Juventude e do Esporte – SECJESP, Angélica Amorim, destaca que há certa dificuldade em relação ao apoio financeiro, já que ainda não existe no município uma política de cultura aprovada que torne possível o incentivo de forma direta. Ainda assim, segundo ela, a Prefeitura contribui com passagens para os jovens que vão representar a cidade em outros lugares e, recentemente, reativou o Concurso Municipal de Poesia Falada que tem como prêmio uma quantia em dinheiro. Para Angélica, outro fator que pode ocasionar nessa sensação de falta de incentivo é a busca. “Até agora, as pessoas que me procuraram foram atendidas, mas se a pessoa não me procura, eu não tenho como saber nem como ir atrás”, relata ela.
Atualmente, o Sarau da Caixa D´água e o Som na Praça, ambos parcialmente organizados por Afonso Augusto, têm atuado na ocupação de espaços públicos com o intuito de proporcionar visibilidade às produções independentes e autorais sergipanas. É a partir desses espaços que as produções locais passam a atuar em um movimento contracultural em Sergipe confrontando a noção maior de cultura oferecida pelas instituições estaduais e municipais. 

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