terça-feira, 15 de março de 2016

Afonso Augusto fala sobre a importância da atuação interiorana nas produções culturais do estado

Dayanne Carvalho

Afonso Augusto abrindo uma edição do Sarau da Caixa D'água em Lagarto (Foto: Dayanne Carvalho)

Sempre envolvido no cenário cultural, Afonso Augusto é um cantor de rock alternativo que há dez anos leva a música produzida em Lagarto para a capital e demais cidades sergipanas. Além de cantor, ele é poeta e um dos organizadores do Sarau da Caixa D’água, que acontece sempre no último sábado do mês em Lagarto.
As atividades culturais tiveram início pela poesia quando Afonso tinha 14 anos. Tendo como principal influência o punk, a música surgiu três anos depois e fez com que, ao longo de sua carreira, ele participasse das bandas Aneurysm, Mundo Bizarro e D’arma. Atualmente, no clima aconchegante das noites em barzinhos, o violão é a fiel companhia da voz arrojada de Afonso. Já em shows maiores, ele conta com o apoio de uma banda base composta por Jefferson Almeida na bateria, Alex Matos na guitarra e Thiago Oliveira no baixo. Para o artista, é a partir de um clima agradável enquanto canta e toca que ele tem “sensações inefáveis”.
Nascido em Salvador e residente desde pequeno em Lagarto, Afonso tem sido um dos grandes responsáveis pela movimentação da cena cultural na cidade sergipana. Com a poesia, ele chama o público. Com a música, ele agita.
Atualmente, o estilo folk tem sido sua grande fonte de influência e inspiração. Em janeiro de 2014, ele lançou o EP Instintos que agrega sete faixas autorais. O EP também está disponível na versão física e pode ser comprado na Casa do Artista em Aracaju e na Play Music Store em Lagarto. Ouça as músicas dessa produção e alguns singles do cantor:

Em entrevista, Afonso Augusto fala sobre a realidade do artista interiorano e dos planos para o novo CD.
O que o fez se interessar por escrever poesias e como se deu o processo de transição para a música?
Afonso Augusto – A poesia era uma maneira de abrir mundos. Eram janelas e portas para tardes tediosas. Sentir e não registrar parecia um desperdício de momentos. Isso acontecia quando eu tinha uns 14 anos. Um adolescente roqueiro e fã de Raul Seixas que também queria tocar, cantar e compor. Então, a música entra pra dar uma extensão a versos e pra amenizar a inquietude de um carinha hiperativo. No carnaval de 2003, aos 17 anos, comprei o primeiro violão: um velho Tonante que até hoje está guardado.

Já aconteceu de você escrever uma poesia e, no processo de criação, ela virar uma música?
Afonso Augusto – Sim, isso é bem frequente. É incrível porque alguns versos saltam e se revelam refrões, se revelam estendidos e melhor compreendidos quando cantados. Daí, dou uma direção rítmica aos versos e nasce uma música.

Por ser um artista do interior, você sente dificuldade ao divulgar seu trabalho ou isso está diminuindo com a internet?
Afonso Augusto – De fato, na internet não tem interior. Existe uma propagação bacana e isso se associa a bons contatos que garantem uma divulgação relevante. É preciso também ter um trabalho de qualidade que se imponha e que tenha destaque. Porém, há desvantagens comparadas aos artistas que atuam na capital. Afinal, em sentido geográfico, interior é o que não se vê. Os holofotes do estado estão na capital, então, quem atua no interior aparece menos.

A centralização cultural na capital e a falta de valorização do artista local são fatores que interferem nas produções artísticas que surgem no interior. Como você encara isso? De que forma esse cenário poderia ser modificado?
Afonso Augusto – Eu encaro tentando criar uma cena no interior, estreitando contato com artistas das cidades que envolvem a região centro-sul, fazendo intercambio de shows, etc. O Sarau da Caixa D’água é uma prova. Também mantenho contato com outros músicos, produtores e donos de estabelecimentos da capital. Convido alguns amigos músicos de Aracaju para eventos no interior e, frequentemente, toco em estabelecimentos na capital. Assim, dou minha contribuição para a futura ampliação deste “holofote” que fica na capital para que ele também abranja o interior.
Acredito que este cenário poderia ser modificado com união dos artistas do interior. Afinal já há uma pequena e considerada descentralização da economia e da educação para alguns municípios, daí surgem novos consumidores para cultura local, para a música local. Intercâmbio de bandas e músicos da capital para o interior seria bem vindo também.
Acredito que isso não só fortaleça a cena artística do interior, como também faça aparecer o que de fato seja sergipanidade.

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