terça-feira, 15 de março de 2016

Sarau da Caixa D’água: o compartilhamento de sonhos revelando artistas

Dayanne Carvalho

Banda pernambucana Semente de Vulcão na edição Especial de Primavera do Sarau da Caixa D'água (Foto: Dayanne Carvalho).

Surgindo a partir de um sonho, se inspirando no Sarau Debaixo (Aracaju) e se transformando na necessidade de mostrar as produções dos artistas do interior, o Sarau da Caixa D’água toma forma a cada fim de tarde de um sábado no fim do mês. Não só mostra a Sergipe a face cultural do interior, como instiga a interação do seu público e reforça a necessidade de conhecer o que é produzido nas terras lagartenses. É de forma independente, através da aproximação produzida pelo chapéu e do singelo apoio de pessoas que acreditam na força do espaço, que o Sarau vem crescendo e se fortalecendo enquanto atividade cultural da cidade e de todas as pessoas que acompanham. Entre os velhos e novos conhecidos, o Sarau da Caixa D’água mostra que nunca é tarde para acreditar, principalmente, quando se trata do sonho de construir a arte dentro de sua própria cidade.
Afonso Augusto, um dos quatro idealizadores – Thalía Leal, Jaflety Pedro e Alef de Souza – do Sarau da Caixa D’água, já realizava alguns eventos na cidade antes de se pensar nesse novo espaço. Em 2007, ele já havia levado sua música em eventos casuais que realizou na praça da Caixa D’água, local onde é realizado o Sarau. Em junho de 2014, ele uniu feitos antigos ao sonho de criar uma nova cena cultural para Lagarto e, no mês seguinte – junto com os sonhos de seus amigos, fez do Sarau um regador de sonhos das outras pessoas. Para Igor Gonçalves, o Sarau da Caixa D’água foi uma ideia incrível para a tomada do espaço público e, também, porque estimula os jovens a se mobilizarem por algo. “Não importa sua forma de expressão, lá você sempre vai ter espaço para expor”, completa ele.
Ao mesmo tempo em que estão surpresos com a proporção tomada pelo Sarau, os organizadores estão bastante satisfeitos e ainda mais otimistas. Após um ano realizando as edições com as naturais dificuldades, Afonso, Thalía, Alef e Jaflety são uma mistura de análises e não foi apenas o Sarau que veio mudando, mas eles também. Foi na espontaneidade de construir o espaço para o outro que tudo aconteceu, sem metas definidas de início. Cada edição realizada é um passo a mais na caminhada pela expansão cultural produzida pelo Sarau, que não apenas envolve cidades sergipanas, mas também estados vizinhos. “Há uma inclusão social no Sarau e todo mundo já tem um encontro marcado todo mês. Algumas pessoas passam o mês todo esperando esse dia, e a gente fica com orgulho de saber que estamos contribuindo pra o atendimento dessa expectativa artística da juventude, das pessoas em geral.”, comenta o grupo.
Mesmo se inspirando em um espaço cultural com uma proposta semelhante, foi através da união desses quatro amigos com o público que o Sarau da Caixa D’água definiu a sua originalidade. Não apenas em dia e horário, mas em proposta e intensidade no compartilhamento do que se produz. O Sarau surge como uma oportunidade que abraça qualquer tipo de pessoa, qualquer tipo de produção. O espaço fez com que muita gente apagasse da sua vida, aos poucos, a vergonha de aparecer e desse oportunidade à coragem de expor aqueles versinhos poéticos ou musicais que estavam guardados no fundo do baú ou da mente. “Lagarto estava necessitando de algo que mostrasse que seus filhos têm talento, que não é apenas o Festival da Mandioca ou coisa do tipo. Temos atores, poetas, cantores e muitas outras coisas. Tanto aqui como nas regiões vizinhas. Sem contar que é algo que todos podem ter acesso”, destaca o estudante Luandson Silva.
Unindo pessoas de diferentes tribos, o Sarau da Caixa D’água tem despertado alegria, reflexão, inovação cultural e a quebra de padrões etários dentro do interesse artístico, por exemplo. Da criança ao idoso, a importância de se ter um espaço como esse é reconhecida por todos. Numa fusão entre público e organização, a hierarquia se perde e cede espaço à poesia, à mágica, às apresentações circenses e de teatro, e à música. Ao cair da tarde, só existe público e arte. Arte para o público, público entregue à arte.

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