segunda-feira, 14 de março de 2016

ENTREVISTA: Creche Universitária.




Para além dos benefícios que a implantação de uma creche na Universidade Federal de Sergipe (UFS) pode trazer às mães e pais estudantes e servidores da Universidade, é possível pensar na creche como espaço de extensão e pesquisa acadêmica? É preciso estudar e produzir planos de ações de intervenção nesse espaço?
                                                                                                                                      Mariana Pimentel  

Ao conversar sobre creches universitárias, logo relacionamos ao benefício que essas instituições proporcionam aos responsáveis pela criação dos filhos. A grande maioria das atividades e responsabilidades com a criação e educação dos filhos acaba sendo relacionada a mãe, que ao longo da história tinha restrição ao ambiente doméstico enquanto o “chefe da família” trabalhava para sustentar financeiramente a casa. Desse modo o cansaço atribuído ao trabalho externo é usado como justificativa para que a mulher seja a responsável pelos cuidados com a casa e os filhos, sendo estas tarefas sempre relacionadas ao conforto e tranquilidade.
O tempo passou e muitas mulheres começaram a decidir que a casa e a maternidade não são limites para subir novos degraus, obtendo realizações pessoais e profissionais. Mesmo assim, a sociedade ainda enfrenta com dificuldade e resistência a quebra dos valores tradicionais de família e obrigações maternas. E ainda é a mulher que precisa de alternativas que minimizem tais situações que exijam a escolha entre ser mãe ou estudante e exercer uma profissão, por exemplo.
A Creche vem como um espaço muito importante na distribuição do fardo que a sociedade entrega às mães, sendo parte responsável pelo cuidado e educação das crianças. Mas a creche desempenha apenas essa função? O estudante de pedagogia Matheus Pacheco faz algumas reflexões sobre os demais benefícios que uma creche pode desempenhar na Universidade. Matheus é militante no movimento estudantil e integrou o grupo de ocupou a reitoria da UFS em fevereiro de 2016. Uma das conquistas do grupo foi o comprometimento da reitoria na discussão da implantação de uma creche e a ampliação do Colégio de Aplicação (CODAP).


Como o curso de pedagogia e o movimento estudantil levantam o debate sobre a criação da creche na UFS? (Além do benefício social para as mães estudantes e trabalhadoras)

R: O Curso de pedagogia está muito desarticulado, eu fui o único estudante a dormir na Ocupação da Reitoria. A atual gestão do Diretório Acadêmico Livre de Pedagogia (DALEPE) não faz reunião desde maio do ano passado, e alguns estudantes passaram na ocupação pra dar apoio mas de forma muito desarticulada.  Duas professoras do Departamento de Educação (DED) também foram prestar solidariedade na Ocupação.
O Movimento Estudantil, a meu ver, vem cada vez mais ficando com um caráter assistencialista. O discurso tem avançado, mas a prática é muito assistencialista. Só temos mobilização em volta de bolsas ou algo do tipo, outras pautas são deixadas de lado. Lembro que quando toquei no assunto da creche pela primeira vez na ocupação as pessoas logo associaram ao movimento de mulheres, pois a creche irá atender principalmente as mulheres, que de fato é quem cuida dos filhos na maioria das vezes. Mas, por exemplo, não é falado nos direitos das crianças ou do uso da autonomia universitária para estender política publicas a quem sempre foi renegada. Lembro que a creche não foi a única vitória, também conseguimos pautar a ampliação do CODAP para as séries iniciais (1º ao 5º ano)


Uma das pautas para a desocupação da reitoria foi o termo de comprometimento para a criação de uma creche na UFS. O termo foi assinado pelo reitor e representantes da ocupação e de entidades estudantis e sindicais. Como o movimento estudantil dará continuidade a essa cobrança?  
 R: Depois da ocupação temos reunido semanalmente com a reitoria. Os ofícios já foram mandados paras entidades e estamos esperando o retorno para começar os trabalhos. Como vamos ter eleição para reitoria esse ano, duvido muito que reitor descumpra o acordo, mas caso isso aconteça  nós acampamos na reitoria de novo.

Sobre o 1º Parágrafo presente no Artigo 7º presente no Decreto 977/93, que diz:
“1º Fica vedada a criação de novas creches, maternais ou jardins de infância como unidades integrantes da estrutura organizacional do órgão ou entidade, podendo ser mantidas as já existentes, desde que atendam aos padrões exigidos a custos compatíveis com os do mercado.”
Muitas instituições e empresas ainda se armam deste decreto como desculpa para se isentar da responsabilidade, pagando uma quantia injusta referente a auxílio creche. A Reitoria da UFS também se arma deste argumento? Se sim, como o movimento pode e deve combater tais posicionamentos?

R: A UFS nunca se armou desse argumento ate agora, eles usaram um leitura das Leis e Diretrizes de Base para a Educação Nacional (LDB) para afirmar que creche é de responsabilidade do município, ignorando varias outras universidades federais que possuem creche. Qualquer um que leia a LDB vai entender que responsabilidade é diferente de exclusividade, mas acredito que a reitoria age de má fé nesse sentido.
  
O curso de pedagogia já discute um planejamento de atuação com atividades em pesquisa e extensão?

R:O DED faz reunião de 15 em 15 dias. Meus professores, em sua grande maioria, são conservadores e duvido que saiam algumas discussões. Mas como vamos discutir reformular o currículo, acredito que vamos esbarrar nessas questões.

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