terça-feira, 15 de março de 2016

O longo caminho da Pátria Educadora

Por Ronaldo Gomes


Com as mãos sujas de pó de giz, a professora se dirige ao quadro negro com o entusiasmo de quem guarda em si o poder de transformar o futuro. Os alunos, balburdiando, fazem da sala um espetáculo cacofônico que impede qualquer intermediação. A educadora pede silêncio uma, duas, incontáveis vezes. Tudo conspira contra: não há recursos tecnológicos, o ventilador mais faz barulho que ameniza o calor, o desinteresse é quase unânime. Ali, postada contra a madeira do quadro, esta mesma professora se vê diante de esperanças despedaçadas. Seu salário não ajuda, mas ela quer ajudar aqueles adolescentes a ser gente, como se diz; entrar na faculdade, lutar por um mundo melhor.

O parágrafo acima bem poderia ser a cena mais dramática de um filme ficcional, no qual a protagonista se reconhece como sendo parte de um roteiro escrito para fracassar. Não é. Esta é a realidade de inúmeros professores, inúmeras salas de aula e inúmeras, incontáveis frustrações que, em disparidade, chocam os alunos graduados nas também muitas licenciaturas. São vários os professores que chegam ao mercado de trabalho com o sonho de perpetuar saber, semear o senso crítico e estimular estudantes a conquistarem o mundo e mudá-lo. A realidade, ouvi dizer, é o que ensina. E ensina da pior maneira.

Muito se fala em planos educacionais; muito de discute sobre educação. Mas será que estamos de fato vivenciando o querem nos empurrar como pátria educadora? Não é isso que se ouve quando, trivialmente, estabelecemos um diálogo rápido com um professor. Eles não recebem dignamente, estão sujeitos a condições de trabalho pífias e protagonizam, como vítimas, as cenas de agressão que parecem até tomadas de filmes de ação bem produzidos. Que isso não soe elogiosamente; estas tomadas só ficam bem – e há quem conteste – nas telonas.

Estes mesmos professores não são vítimas apenas de decepções inesperadas na vivência diária do ambiente escolar. São vítimas de um sistema maior, que não os prepara para atuar de maneira efetiva diante dos problemas que só o dia a dia escolar apresenta.

Falta a implementação de medidas incisivas. Falta recursos metodológicos. Falta que os professores saiam de fato preparados dos bancos das universidades.Falta também a educação de casa. Falta programas motivacionais. Falta estrutura e reconhecimento. Sobretudo, falta que a máxima do governo federal seja posta em prática. Falta, no momento, a Pátria Educadora.

O Brasil está cheio de gente interessada. Cheio de professores que buscam transformar a educação e de alunos que só precisam ser ouvidos e incentivados.

O que todos esperam é que a arma que atira contra o professor hoje se torne um lápis na mão do aluno amanhã. Que o dinheiro que tramita em transações políticas injustas, seja investido nas escolas. Que este sonho de tornar a educação o caminho certo, seja alimentado por salários menos repugnantes.

Quando a educação mudar, o país mudará. E quando o país mudar não haverá ninguém que se envergonhe de dizer que é brasileiro. Com muito orgulho e com muito amor.

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