Por Allan Jonnes
(Foto: https://www.facebook.com/MarioJorgePoesiaQueLiberta/posts/546203135440340.)
O dia 14 de março, até o ano passado (2015), era
considerado extraoficialmente o dia nacional da poesia aqui no Brasil – em
tributo a memória do baiano Castro Alves. No entanto, em 3 de junho daquele ano, a presidenta Dilma Roussef sancionou
a Lei 13.131/2015 que modificou a data da celebração para o dia 31 de Outubro, dessa
vez em homenagem ao grande Carlos Drumond de Andrade. O que acontece é que desavisados
ou desobedientes, esse ano os poetas comemorarão em dobro, dado que o dia de
ontem, Segunda-feira (14), foi já clandestinamente festejado em alguns pontos
do País. No mês de março também se comemora o dia Internacional da Poesia, a
celebração ocorre todos os anos no dia 21, e por hora essa é uma data
irrevogável.
Isso tudo se pode esquecer. É admissível que
se esqueça o número dessas datas, os meses do ano, as comemorações oficiais, etc.
O que não se pode esquecer é a inestimável e atualíssima figura de Mario Jorge,
poeta sergipano que se estivesse vivo comemoraria agora em 2016 o seu
aniversário de 70 anos.
Dono de uma poesia-betume, de espontâneas golfadas
líricas no manejo da palavra, o inquieto poeta sergipano continua encrustado
nos becos sujos dessa cidade, nas esquinas do tabuleiro, na brisa da rua da
frente, no fedor dos manguezais, na agua dos estuários, nos copos sujos de
qualquer boteco do centro, e em qualquer lugar onde duas ou mais pessoas estiverem
reunidas para falar da poesia local.
Crítico voraz do seu tempo, lançou em vida um único livro - o REVOLIÇÃO - publicado originalmente como livro-envelope. Escrito em São Paulo no ano de 1967 e lançado em Aracaju em 1968, pode-se dizer que a obra nasceu como nascem os bebês: apanhando, uma vez que o poeta foi preso por atividades “subversivas” no ano do seu lançamento. Em entrevista concedida à Jornalista Ilma Fontes e publicada na Gazeta de Sergipe em 3 de Dezembro de 1967 Mário nos deixa talvez uma de suas maiores provocações: “É urgente o Vexame”.
E
a vida do poeta, pode-se dizer, foi mesmo bastante tumultuada. Entre prisões e
duas internações em manicômio Mário foi o que se pode chamar de um iconoclasta,
uma figura política que performava sua ideologia, estava tomado dela, e a sua presença
ainda faz muita falta na aldeia Serigy. Não pôde separar a obra poética do
próprio corpo fisiológico, da própria existência.
Os
outros livros, todos póstumos, são reuniões de poemas de várias fases da
produção do poeta que passeou entre o poema concreto, a lírica das ruas, o
poema processo, o engajamento, o tropicalismo, o poema práxis, as ilustrações,
o fluxo de consciência, e o poema espontâneo, em uma tentativa de capturar e
imprimir um instante vital para ser capaz de alongá-lo na folha. São esses os livros:
Poemas de Mário Jorge (1982), Silêncios Soltos(1993),
Cuidado, Silêncios Soltos, De Repente, há Urgência (1997) e A noite que
nos Habita (2003).
É
sem dúvidas um poeta redimido, nasceu em novembro de 1946, e morreu antes da
obra, no dia 11 de janeiro de 1973, em um desastre automobilístico. Morreu descendo
a ponte do Rio Poxim, de frente para o mar e de costas para o mundo - que hora o
recusou, hora o agarrou com as unhas, mas o deixou escapar. Mario foi enorme. É
anônimo. Tome nota.
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