terça-feira, 15 de março de 2016

Cultura em Sergipe sofre com a falta de incentivo no estado

Por Izabel Costa

Em Sergipe há diversos grupos culturais que desempenham papéis fundamentais para engrandecer a cultura do estado, mas infelizmente acabam não tendo o espaço devido e a disseminação do seu conteúdo. A pesar de não terem todos mecanismos necessário para se manter, os grupos continuam trabalhando e seguem com persistência para continuar a cultura e tradição do estado, isso chama a atenção de muitos, inclusive dos visitantes e turistas.

Entre os principais grupos estão: o Stultifera Navis de Aracaju, o Imbuaça, o sanfoneiro Boca Loca que toca no mercado municipal e o grupo de reisado de Moita Bonita, cidade do interior do estado.

Stultifera Navis

O nome Stultifera Navis (Nau dos Insensatos) é o nome dado a um barco na idade média, que circulava no rio Reno para transportar pessoas loucas, vagabundas e antissociais. Porém em 1993 no Rio de Janeiro, o significado foi reinventado por dois diretores e quatro graduados no grupo de Artes Cênicas, que passaram a utilizar esse nome em um grupo de Teatro. 

Nesse grupo estava Lindemberg Monteiro, que veio a Aracaju no ano de 1997. O convite partiu da Secretaria Estadual de Educação e Cultura e o SESC para dirigir a leitura dramática do escritor Sergipano Hunald de Alencar.

“Faço parte do grupo desde setembro do ano passado, participei de uma peça: Cabaret do Insensato. E ensaiei bastante uma outra, mas não cheguei a me apresentar devido a imprevistos pessoais”. Diz Adele Vieira Barbosa dos Santos, atriz da Stultifera Navis. Atua no grupo desde setembro de 2015, após ter feito oficina de teatro no mesmo. Ela teve seu primeiro papel no Cabaret dos insensatos com a personagem Letícia, uma garota que fugiu de casa iludida pensando que seria uma grande artista no circo da mãe de um forasteiro que ela conheceu em uma quermesse da igreja, ao chegar lá ela percebe que o circo na verdade era um cabaré. Como não podia voltar para casa, decidiu aceitar o destino e continuar, logo depois ela reencontra uma amiga de infância. Adele Vieira deixou claro que amou interpretar essa personagem por ser uma garota jovem, esperta e provocadora. 


Elenco do grupo. Foto: Arquivo pessoal de Adele Vieira

O ator Amadeu Neto também falou um pouco sobre o grupo e das dificuldades que eles enfrentam para se manter firme. O Stultifera Navis, que contem em torno de 16 componentes até fevereiro estava localizado na rua da cultura, mas tiveram que se mudar em virtude de alguns problemas financeiro.


Mesmo com todo esforço do grupo, Adele Vieira conta que ainda estão sem local fixo e os ensaios ocorrem na casa do diretor e as apresentações no Museu da Gente Sergipana, teatro e escolas.

Reisado de Moita Bonita

O grupo de reisado de Moita Bonita foi criado em 07 de abril de 2007, por José Roberto Santana Santos. Tudo começou a partir de uma brincadeira de criança entre os familiares, quando teve a ideia de montar um reisado apenas para se divertir com os amigos, mas com o passar do tempo sentiu a necessidade de fazer algo mais sério, pois tinha muito interesse pelo desenvolvimento cultural de sua cidade.

Um dia José Roberto conversou com a avó e pediu que ela criasse as vestimentas para o reisado, conversou com os amigos e montaram um grupo, mas a maioria não eram compromissado e levava essa ideia na brincadeira. Dessa forma, ele teve muitas dificuldades para seguir com o objetivo e em muitos momentos pensou em desistir.

O maior problema que o criador do grupo enfrentou para continuar foi o preconceito. Moita Bonita, por ser uma cidade do interior e os habitantes possuírem ideias restritas, viram o reisado como algo de pessoas aventureiras e erradas. Assim não gostariam de ter algum membro da família participando.
Em 2010, José Roberto e sua equipe foram convidados para participar do festival de folclore de Olímpia em São Paulo. A partir desse momento, as pessoas da cidade sede do grupo foram mudando a visão que tinham com relação ao reisado e passaram a valorizar. Hoje, não falta integrantes, o grupo está firme e sempre tem pessoas procurando saber se há vagas para se integrar.

O grupo é independente, faz apresentações em Itabaiana e já participou do encontro cultural de Laranjeiras durante três anos. Atualmente, fazem as vestimentas com cachê que recebem nos eventos que participam. Ainda assim, em algumas ocasiões não conseguem os valores necessários para o pagamento aos integrantes, mais isso não é problema, pois todos compreendem a situação. 

O sanfoneiro

No mercado municipal de Aracaju tem um sanfoneiro que toca diariamente, ele é muito espontâneo e faz a alegria dos turistas e todos que passam por lá. Ele é muito divertido e trata muito bem todas pessoas que o cumprimentam. É uma figura que faz parte da cultura do estado, tocando o forró pé de serra que já faz parte da tradição sergipana.

Ele usa um chapéu para receber os trocados que as pessoas oferecem, já participou de concursos locais e nacionais. É uma figura reconhecida por muita gente no estado e também fora.
Em Aracaju dedicou-se principalmente a sanfona, com isso foi convidado a apresentar-se em emissoras de televisão locais. Nessas apresentações, o senhor Antônio responsável pelo concurso de quadrilhas juninas da Rua São João assistiu e o convidou para tocar nos concursos. A partir de então, a carreira do sanfoneiro ganhou ainda mais destaque no estado.
Grupo Imbuaça

O trabalho artístico do grupo. Foto: Marcos Vini.

O grupo Imbuaça foi fundado em 1978 e fez sua primeira apresentação com o texto o “Matuto com balaio de maxixe”. Do início do grupo até meados de 2012 esteve presente no festival de arte de São Cristóvão. Em 1982 fez o primeiro espetáculo no palco. Em 1993 se apresentou em alguns festivais no Brasil. Foi dessa forma que conseguiu reconhecimento pelo público não apenas no próprio estado, mas também fora.

Atualmente, estão com os espetáculos a Peleja do Leandro, A Grande Serpente e a Farsa dos Opostos. Segundo o entrevistado Lindolfo do Amaral, que é diretor do grupo a principal dificuldade é a falta de apoio dos órgãos públicos, por isso que torna difícil o trabalho dos grupos culturais, pois falta patrocinadores. Lindolfo Amaral completou dizendo que, “poucas instituições públicas compram espetáculos, porque para eles é mais fácil contratar um grupo de pagode, as prefeituras do interior nunca contratam um grupo de teatro para se apresentar”.
Os trabalhos deles são divulgados mais nas redes sociais, o jornal da cidade e jornal do dia também divulgam. Em Sergipe o Imbuaça trabalha mais com espetáculos de rua, pois não tem espaço para apresentar em salas convencionais. As apresentações em palco são feitas em outros estados, como por exemplo a peça “O repertório da Grande Serpente”, trabalhada em vários estados das regiões Nordeste e Sudeste.  

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