terça-feira, 15 de março de 2016

A luta pela igualdade de gênero

Por Ananda Boaventura

Ainda que as mulheres tenham mais participação na sociedade em comparação aos antecedentes históricos já enfrentados, a desigualdade é uma característica forte e persistente em todo o mundo. Segundo os resultados do Índice Global de Desigualdade de Gênero divulgados em março de 2016, o Brasil está na 85º posição dentre os 135 países participantes. Um movimento que tenta combater os níveis de desigualdade é o feminismo, porém, ele tem sido motivo de muitas discussões e alvo de muitas críticas ultimamente. 

O feminismo passa por uma nova fase e, desde 2014 o assunto gera polêmicas nas redes sociais tendo seus ideais discutidos especialmente por jovens, que têm como um dos principais argumentos, a identificação de traços da misandria – desprezo por homens – em alguns discursos realizados por pessoas que se afirmam feministas.

O estudante da UFS, João Victor dos Anjos, 18, não se considera machista, mas também não se coloca a favor do movimento. Ele afirma que “o feminismo que vemos hoje em dia é fomentado na misandria e no vitimismo. Acho que a luta por igualdade é perfeitamente justa, porém é impossível igualar completamente o homem e a mulher, por questões biológicas”. Ele acrescenta que “não deve haver a completa igualdade para uma sociedade harmoniosa, e sim um respeito mútuo pela figura do ser humano independente de sexo, raça ou cor”.

Sabe-se que o movimento é muito amplo e possui diferentes linhas e vertentes de pensamento, algumas são radicais e outras nem tanto. Sendo assim, é possível observar algumas variações em cada discurso. A estudante de Design Gráfico da Universidade Tiradentes (Unit), Daiane Rocha, 25, afirma lutar pela igualdade entre gêneros “estabelecendo diálogo e tentando desconstruir a opressão de gênero e o machismo na sociedade. Tirar as mulheres da cegueira e é complicado, mas a gente tenta dialogar”. Ela acredita que “quando a mulher reproduz o machismo, não é como o homem, pois o homem ele é machista e tem atitudes machistas. A mulher não é machista, ela sente a opressão e reproduz. Então, a gente tenta trazer para os ideais do feminismo para mostrar a liberdade que ela pode ter, e o homem quando ele é machista, cara, a gente tem que escrachar mesmo, por que às vezes não tem como dialogar”. Daiane acredita que os ataques machistas afetam toda a sociedade, mas ela afirma que “só a mulher pode ser feminista, o homem pode apenas apoiar a causa, pois ele já nasce aprendendo a ser machista e a reproduzir o machismo”.

Em contraposição, a também feminista Isabela Moraes, 25, estudante de Comunicação Social – Jornalismo na UFS aborda o feminismo com outro olhar “Eu, enquanto feminista não militante, defendo a libertação do corpo feminino. Existe muito tabu sobre o corpo e a sexualidade femininos. O estado tenta dominar o corpo feminino dizendo que ela não tem plena autonomia sobre ele. O homem tenta dominar o corpo feminino dizendo que ela precisa se valorizar”. Com relação às provocações e discursos de ódio realizados nos últimos meses, ela afirma que “meu feminismo não é uma política social, mas uma coisa subjetiva; a maneira pela qual enxergo a vida. Tento ser fiel ao que acredito – é muito difícil não cair na armadilha do machismo arraigado, que é aquele tão comum que se torna imperceptível. Acredito que a educação é a base para a conversão da sociedade machista em uma sociedade que trata com equilíbrio seus extremos. Não sou a favor da discussão em redes sociais ou em mesas de bar. Ceder a provocações só transforma o machismo em uma atividade divertida para alguns.” Isabela acredita que o machismo está presente na sociedade, já que pais machistas criam filhos machistas e desse modo a sociedade se desenvolve. Porém, ela crê que todos podem ser feministas “Não dá para a mulher pleitear espaço e respeito se toda a sociedade (aqui entram os homens) não compreender isso. O machismo, de maneira mais branda, também afeta os homens; o feminismo, por sua parte, também libertou os homens da obrigatoriedade de serem machões”.

Superficialidade sobre o assunto


Para saber como os universitários compreendem o assunto, em 2015 os estudantes de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe desenvolveram uma pequena pesquisa dentro do campus os resultados são um espelho do que o movimento e a sociedade enfrentam. Ainda que 72% dos entrevistados já tivessem ouvido falar sobre o tema, apenas 6,6% conseguiam distinguir a diferença entre os discursos da misandria e do feminismo, sendo notada a superficialidade do conhecimento quanto ao assunto, tanto por parte dos homens quanto das mulheres, o que pode ocasionar na generalização das correntes feministas e não feministas. 

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