Ainda
que as mulheres tenham mais participação na sociedade em comparação aos
antecedentes históricos já enfrentados, a desigualdade é uma característica
forte e persistente em todo o mundo. Segundo os resultados do Índice Global de
Desigualdade de Gênero divulgados em março de 2016, o Brasil está na 85º posição
dentre os 135 países participantes. Um movimento que tenta combater os níveis
de desigualdade é o feminismo, porém, ele tem sido motivo de muitas discussões e
alvo de muitas críticas ultimamente.
O
feminismo passa por uma nova fase e, desde 2014 o assunto gera polêmicas nas
redes sociais tendo seus ideais discutidos especialmente por jovens, que têm
como um dos principais argumentos, a identificação de traços da misandria –
desprezo por homens – em alguns discursos realizados por pessoas que se afirmam
feministas.
O
estudante da UFS, João Victor dos Anjos, 18, não se considera machista, mas também
não se coloca a favor do movimento. Ele afirma que “o feminismo que vemos hoje em dia é fomentado na misandria e no
vitimismo. Acho que a luta por igualdade é perfeitamente justa, porém é
impossível igualar completamente o homem e a mulher, por questões biológicas”.
Ele acrescenta que “não deve haver a completa igualdade para uma sociedade
harmoniosa, e sim um respeito mútuo pela figura do ser humano independente de
sexo, raça ou cor”.
Sabe-se
que o movimento é muito amplo e possui diferentes linhas e vertentes de
pensamento, algumas são radicais e outras nem tanto. Sendo assim, é possível
observar algumas variações em cada discurso. A estudante de Design Gráfico da
Universidade Tiradentes (Unit), Daiane Rocha, 25, afirma lutar pela igualdade
entre gêneros “estabelecendo diálogo e tentando desconstruir a opressão de
gênero e o machismo na sociedade. Tirar as mulheres da cegueira e é complicado,
mas a gente tenta dialogar”. Ela acredita que “quando a mulher reproduz o
machismo, não é como o homem, pois o homem ele é machista e tem atitudes
machistas. A mulher não é machista, ela sente a opressão e reproduz. Então, a
gente tenta trazer para os ideais do feminismo para mostrar a liberdade que ela
pode ter, e o homem quando ele é machista, cara, a gente tem que escrachar
mesmo, por que às vezes não tem como dialogar”. Daiane acredita que os ataques
machistas afetam toda a sociedade, mas ela afirma que “só a mulher pode ser
feminista, o homem pode apenas apoiar a causa, pois ele já nasce aprendendo a
ser machista e a reproduzir o machismo”.
Em
contraposição, a também feminista Isabela Moraes, 25, estudante de Comunicação
Social – Jornalismo na UFS aborda o feminismo com outro olhar “Eu, enquanto
feminista não militante, defendo a libertação do corpo feminino. Existe muito
tabu sobre o corpo e a sexualidade femininos. O estado tenta dominar o corpo
feminino dizendo que ela não tem plena autonomia sobre ele. O homem tenta
dominar o corpo feminino dizendo que ela precisa se valorizar”. Com relação às provocações e discursos de ódio
realizados nos últimos meses, ela afirma que “meu feminismo não é uma política
social, mas uma coisa subjetiva; a maneira pela qual enxergo a vida. Tento ser
fiel ao que acredito – é muito difícil não cair na armadilha do machismo
arraigado, que é aquele tão comum que se torna imperceptível. Acredito que a
educação é a base para a conversão da sociedade machista em uma sociedade que
trata com equilíbrio seus extremos. Não sou a favor da discussão em redes
sociais ou em mesas de bar. Ceder a provocações só transforma o machismo em uma
atividade divertida para alguns.” Isabela acredita que o machismo está presente
na sociedade, já que pais machistas criam filhos machistas e desse modo a
sociedade se desenvolve. Porém, ela crê que todos podem ser feministas “Não dá
para a mulher pleitear espaço e respeito se toda a sociedade (aqui entram os
homens) não compreender isso. O machismo, de maneira mais branda, também afeta
os homens; o feminismo, por sua parte, também libertou os homens da
obrigatoriedade de serem machões”.
Superficialidade
sobre o assunto
Para
saber como os universitários compreendem o assunto, em 2015 os estudantes de
Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe desenvolveram
uma pequena pesquisa dentro do campus os resultados são um espelho do que o movimento e a sociedade
enfrentam. Ainda que 72% dos entrevistados já tivessem ouvido falar sobre o
tema, apenas 6,6% conseguiam distinguir a diferença entre os discursos da misandria
e do feminismo, sendo notada a superficialidade do conhecimento quanto ao
assunto, tanto por parte dos homens quanto das mulheres, o que pode ocasionar
na generalização das correntes feministas e não feministas.
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