segunda-feira, 14 de março de 2016

Areia Branca Terra Do Forró

O município de Areia Branca, situado no agreste do estado de Sergipe, distante 36KM da capital sergipana, vive um dos piores momentos quando o assunto é cultura. Teve um tempo que a cidade era conhecida nacionalmente como a capital do forró, porém, essa realidade já não é mais a mesma.
(Batalhão 1º de São João      
  Foto: Acervo de Zé Dil, década de 50.)


Toda essa história iniciou-se com celebrações a São João, na qual aconteciam na véspera do seu dia, 23 de junho, com preparação de fogueiras, mastros e fogos. De acordo com relatos de moradores, as celebrações iniciavam-se no dia 31 de maio à meia-noite em meados dos anos de 1950 a 1980. Nessa noite realizava-se o ritual festivo denominado Batalhão 1º de São João. Prevalecia o caráter religioso, com novenas e procissões durante todo o mês. Já no final dos anos 80 e início dos anos 90, a participação da comunidade no Batalhão começa a decrescer.

De acordo com populares do município, o então prefeito José do Prado Franco Sobrinho, Zé Franco, que teve mandato até 1986, na tentativa de trazer um ar de modernidade para o encontro, decide criar o “São João de Paz e Amor”, que passou a ser realizado entre os dias 23 e 29 de junho. Já no ano de 1990, o então prefeito Ascendino Sousa Filho, cria a tradicional abertura dos festejo juninos no dia 31 de maio, no mesmo dia em que acontecia o ritual cortejo do batalhão 1º de São João. 
(cartão telefônico)


Desta forma, a festa passa a ser realizada nessa e em outras datas do mês de junho, incluindo-se em sua programação vários shows musicais. Com o crescimento desse novo modelo, Areia Branca tornou-se destaque no calendário dos festejos juninos do estado e nacional nos anos 90.  A festa, que acontecia na rua, é transferida para a praça do mercado no ano de 1990, quando se cria a abertura dos festejos juninos com shows musicais, além do Batalhão, no dia 31 de maio. A praça do mercado se transformava em um imenso aria. A cada ano que se passava, o São João de paz e amor (como ficou tradicionalmente conhecido), crescia mais e mais, chegando a tal ponto, que a área do mercado não era mais suficiente para comportar todo o público forrozeiro. 

Então, em 1992, a prefeitura de Areia Branca e o Governo do Estado de Sergipe, representados respectivamente pelo prefeito Ascendino de Sousa Filho e pelo governador João Alves Filho, iniciam as obras do forródromo. Depois da construção do forródromo, a cidade é elevada a um dos principais pontos turísticos do estado, sendo considerada a então Capital Nacional do Forró. Em 1997 e 1998, Areia Branca começava a chegar em seu momento de auge, tanto para os festejos juninos do estado, como para os festejos de todo o nordeste. Em 1998, a tradicional festa, começa a ganhar uma mistura mais atraente, com uma mistura de artistas regionais, nacionais e com bandas que estavam se destacando em shows pelo nordeste.

Mesmo com a capital começando a ser o centro das atenções, durante o período da administração do Ex: prefeito José Nivaldo de Carvalho (Zé da Serraria), o município contava com patrocínios de empresas (privadas e estatais), para a realização do evento. No seu primeiro ano, Zé da Serraria realizou um festejo impecável, contando com grandes atrações, como de costume nos últimos anos. Artista com Zezé de Camargo e Luciano, Frank Aguiar e Falamansa, foram algumas delas. Mas para a surpresa de todos “ou não”, nos anos consecutivos, a realidade começa a mudar, e no lugar de bandas tradicionais, bandas de outro ritmo (Brega) começa a ganhar espaço dentro de evento, transformando o grande São João De Areia Branca, em uma simples festa, contando com um público muito baixo. Segundo a secretaria de cultura da época, Fabiana Menezes.
   
(Foto: itnet.com.br)

Muda a administração, volta o ex prefeito Sousa, o mentor do evento junto com o também Ex prefeito Zé Franco, mas a situação do São João já estava precária e, outras cidades começam a realizar o Tradicional festejo junino. É então que Areia Branca perde o seu espaço de vez. O então prefeito perder o mandato em 2008, e mais uma vez o festejo voltará a sofrer. Muda a administração e o nome da festa. Em 2009, Agripino assume a prefeitura de Areia Branca e, como primeira medida quanto a organização dos festejos, a nova administração muda de: São João de Paz e Amor para São João de Pé no Chão.

 Um fato inusitado que causou questionamentos da população: uns aceitaram e outros não. Essa mudança se deve ao fato do administrador alegar problemas financeiros para elaboração dos festejos. Para Agripino, São João de Pé no Chão é o São João sem recurso. A mudança do nome não se deu somente por conta da situação financeira. O que deixa transparecer, é que a mudança se deu por uma tentativa de romper a ideia de sua formação inicial. Para muitos, o que levou a mudança do nome, foi motivos políticos.
 Em conversa com o cantor Erivaldo de Carira, ele recorda com muita emoção os momentos vividos no São João de Areia Branca. 

(Foto: Polim Fotos)


Para Erivaldo, naquela época o melhor São João do estado se encontrava em Areia Branca. Era motivo de muita emoção chegar para cantar no maior forrodromo do pais, e ver aquela multidão de gente. Mas hoje o município vive uma triste realidade. Ele deixa bem claro a sua tristeza em ver os festejo juninos nessa situação. Palco que ele e outros grandes nomes do forró sergipano e nacional cantaram, a exemplo: Flávio José, Jorge de Altinho, Alcimar Monteiro, o saudoso Dominguinhos, João da passarada, Lourinho do Acordeom, Loirinho Junior, entre outros. Segundo ele, no espaço que era para grandes nomes do forró, hoje está sendo ocupado por outros ritmos é muito a se pensar. Para Erivaldo, a situação do festejo é complicado e para voltar a ser como era antes, é muito difícil, pois os investimentos que eram feitos, agora são destinados ao capital (forró caju).


Tendo um papel muito importante, tanto na história do município, quanto para a história cultural do estado de Sergipe, o São João de Areia Branca, vive hoje uma triste realidade, que é semelhante a morte de um filho. É triste para a população local ver onde chegou o seu maior patrimônio cultural. Ao lembrar das ruas enfeitas com balões, bandeirolas, fogueiras e saber que a aquela realidade só ficará somente nas fotografias e lembranças, é um dor que não tem explicação. Será mesmo que o tradicional São João de Areia Branca vai apagar? E quem levará essa culpa?

Um comentário: