segunda-feira, 14 de março de 2016

Apenas três quilômetros



 Mariana Pimentel

São 7 horas da manhã. Ponho Miguel, meu filho de 1 ano e 8 meses, em seu sling (um tecido de amarração que simula uma bolsa de canguru) e sigo para o ponto de ônibus. Cheio de gente. Nessa hora do dia o fluxo é grande, não demora muito para passar ônibus. Mas todos estão lotados. Tento olhar entre as pessoas que estão de pé se os assentos estão ocupados, e estão. Todos os espaços possíveis estão. Entre os vários ônibus que passam acabo vendo que nem sempre essas cadeiras reservadas estão ocupadas por pessoas que se enquadram nos casos previstos em lei. Idosos estão de pé, enquanto jovens seguem o caminho bastante interessados na paisagem da janela. É a cegueira seletiva. O amanhã ignorado.
Dou sinal, subo no ônibus e pergunto ao motorista se tem vaga pra mim. É um pedido de ajuda. Ele entende e me responde enquanto aponta os olhos aos que não tem prioridade em ocupar as cadeiras que antecedem a catraca. Uma senhora com seus 40 anos se levanta e passa para o outro lado do ônibus, enquanto duas moças continuavam sentadas, conversando tranquilamente. E olha quem nem deu sono nesses passageiros, como por várias vezes presenciei, quando um idoso ou uma mãe e suas crianças dão sinal para o motorista. Certa vez uma menininha “acordou” um passageiro, pois até ela já sabia o que é ser ignorada, desrespeitada.
Desço no terminal de integração do Campus. Os olhares perguntam:
-          O que essa daí tá fazendo com um menino no braço?
-          Vai entrar pra assistir aula com ele? Deve estar querendo aparecer, só pode!
Claro, não tem nenhuma outra explicação...
Parece até que precisamos escolher entre a maternidade e a vida social/profissional/acadêmica. Não precisa ser assim. A gente não morre quando se torna mãe.
A gente renasce.
Sigo pelos corredores. Sinto muito, Miguel. Aturar a hipocrisia acadêmica tão cedo é para poucos.


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