segunda-feira, 14 de março de 2016

Ainda podemos falar sobre anarquia?


Apartidarismo, crise representativa, conquistas absolutamente populares e os novos movimentos inseridos neste contexto


Por: Guilherme Almeida

 Julho de 1917: Uma greve geral dos trabalhadores da indústria e do comércio - iniciada em São Paulo - entra para a história do país como resultado de uma organização operária de inspiração anarcosindicalista aliada à imprensa libertária da época. Exigindo garantias e melhores condições trabalhistas, esta paralisação foi a mais longa e envolvente da história brasileira. Como consequência, todas as exigências dos trabalhadores foram atendidas, entre elas: que nenhum operário fosse demitido por participação ativa e ostensiva no movimento grevista; abolição do trabalho de menores de 14 anos nas fábricas, oficinas etc; Aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 e de 25% para os mais elevados; Jornada de oito horas e semana inglesa. (Leia mais: Reportagem sobre anarquia)
Junho de 2013: O Brasil viveu um grande momento de sua história com o que ficou conhecido como “jornadas de junho”.  Milhares de pessoas saíram às ruas inicialmente para contestar o aumento nas tarifas de transporte público, mas com o passar do tempo outros milhões indignados com a corrupção, com serviços públicos de má qualidade e exigindo reforma política juntaram-se aos demais e tomaram as ruas do país. O que teve de particular nessa manifestação foi o fato de não ter sido convocada por instituições representativas tradicionais, como partidos, sindicatos e grêmios. Seguindo o mesmo desfecho da greve de 1917,também garantiu algumas conquistas, tais como: redução da tarifa de ônibus em 17 cidades; aprovação de 75% dos royalties e 50% do Fundo social para a educação; aprovação por parte do Senado de um projeto que torna a corrupção crime hediondo.
Devemos fazer uma relação entre esses dois acontecimentos? Segundo Caio Amado, professor de sociologia da Universidade Federal de Sergipe, não se deve necessariamente fazer uma comparação entre os dois movimentos citados acima, pois “há sempre mudanças e os problemas sociais são diferentes”. Além disso, existem características próprias. Também afirma que em 2013 houve muita fragilidade e em certo momento, a direita soube aproveitar-se disso, pois havia uma crise representativa em relação a todos os partidos de esquerda. Ele também avalia que as manifestações tenham sido uma resposta à crise de 2008 somada à globalização, o que a tornou muito mais complexa do que a de 1929, e que o mundo ainda não foi capaz de superar este último turbilhão. “A crise não é produto dos movimentos e sim o contrário”.
Cada vez mais os movimentos, coletivos e agrupamentos em geral, surgem declarando-se apartidários, horizontais, adeptos da autogestão. Se eles procuram desvencilhar-se cada vez mais de rótulos antigos, será que é possível defini-los? Ou melhor. Devemos classificá-los de alguma forma?
Indagado ainda sobre alguns movimentos que vem emergindo e responsáveis por liderar alguns protestos atualmente - entre eles o Não Pago (confira aqui uma entrevista pingue-pongue com um dos integrantes do movimento)– o professor prefere não rotulá-los e apesar de enxergar traços autonomistas, prefere defini-los como algo novo. “Como a única experiência não capitalista fracassou, é necessário surgir uma coisa nova. Agora o quê será essa coisa? Isso é impossível de ser respondido. Vamos ver”.



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