Por: Camila de Jesus Oliveira
Nos últimos anos, a mulher tem se inserido cada vez mais nas diversas áreas do
mercado de trabalho; elas conquistaram vários espaços e se mostraram
eficientes para lidar com as mais variadas situações das quais em sua maioria
eram realizadas por homens. É inegável o quanto a mulher tem se emancipado
e ganhado confiança para enfrentar e lidar com o machismo na sociedade e,
principalmente, nos campos de atuação. Porém, segundo dados referentes a
matrículas nas universidades, as mulheres ainda são minoria nas áreas de
exatas e engenharia nas universidades e no mercado de trabalho, além de
receber menores salários. Para corrigir essas discrepâncias vários países
adotaram programas que incentivam as novas gerações de mulheres a fazerem
escolhas profissionais nas áreas científicas e tecnológicas.
O machismo, apesar de todos os avanços que o movimento feminista tem
conquistado e o processo de modernização da sociedade, ainda é muito
presente nos mais diversos espaços, o que tem dificultado a escolha de muitas
estudantes sobre qual área de atuação escolher para cursar na universidade.
Ainda há muito à avançar, muito espaço para conquistar e, prioritariamente,
coragem para ocupar esses lugares, é o que dizem as mulheres que cursam e
atuam na área de mecânica da UFS (Universidade Federal de Sergipe), elas
afirmam que por diversas vezes se sentem oprimidas e confusas quanto a seu
espaço nessa área de atuação.
Para muitos, ainda há uma divisão entre área de atuação de homem e de
mulher. Segundo o site do SISU, dos aprovados para o período de 2015.1 de
Engenharia Mecânica da UFS, os homens ocuparam 85% das vagas, contra
apenas 15% das mulheres. Já em cursos da área de saúde, como
Fonoaudiologia, os números são bem diferentes: cerca de 82% das vagas do
curso é formado por mulheres, e apenas 18% de homens. Segundo
levantamento de 2013 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mulheres representam apenas 5,1% das
matrículas nas áreas de engenharia e 3,7% nas áreas de física, matemática e
ciências da terra.
As mulheres receberam, em média, 72,3% do salário dos homens em 2014,
segundo o estudo 'Mulher no mercado de trabalho: perguntas e respostas',
divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
homenagem ao Dia Internacional da Mulher. O número repete a proporção
encontrada nos levantamentos de 2012 e 2013.
Para diminuir essa situação, alguns programas foram criados com o objetivo de
incluir e motivar as estudantes a não se oprimir diante dessa realidade. Em
2013, foi criado o programa: ‘Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas,
Engenharias e Computação", uma iniciativa da Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em parceria com a Petrobras,
o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tinha como missão
despertar nas educandas o interesse por carreiras nas áreas de ciências exatas,
engenharia e computação, já que a escolha da profissão pelo sexo feminino
obedece ao papel definido pela sociedade e com essa iniciativa eles querem
mostrar às meninas e jovens que elas são capazes e podem atuar como
engenheiras e matemáticas, por exemplo.
Na UFS, foi criado o projeto: "Lugar de mulher é na oficina: Quebrando
Paradigmas", pela professora Alessadra Gois Luciano de Azevedo, que tem
como objetivo motivar, qualificar, estimular e desenvolver o espírito de
engenharia nas alunas de ensino médio e de graduação, com o propósito de
formar profissionais capacitadas a atuarem com novas tecnologias de
desenvolvimento de projetos, no mercado de trabalho e em pesquisas
cientificas.
Para a maioria das estudantes de Engenharia Mecânica da UFS, a dificuldade
não está nas disciplinas ofertadas pelo curso, e sim no número pequeno de
mulheres inseridas nele e no machismo por trás desse pequeno número. Na
escolha do curso foram desestimuladas e, por diversas vezes, ouviram frases do
tipo "mecânica não é pra mulher, porque não cursa algo da área de saúde?",
mas persistiram e não se oprimiram diante dessa realidade.
A estudante de Engenharia Mecânica da UFS, Stefany Moreira, afirma que a
existência de projetos que estimulem a participação feminina nessas áreas de
atuação é um grande avanço para acabar com o machismo que existe na
universidade, e que se sente orgulhosa de fazer parte de um grupo pequeno de
mulheres que resistiram a esse fato e continuam firmes na mecânica.
O cientista social Cassio Murilo, diz que "essa desigualdade existe por conta do
machismo ainda presente na sociedade." Mulheres preferem ocupar cursos de
saúde por ser uma área que tem como principal objetivo cuidar do próximo, e
homens cursos como mecânica por estar ligado a uma área que aparentemente
requer mais força física e atividade corporal; "é estimulada a visão que mulher
tem que lidar com áreas que requer fragilidade, característica do gênero feminino, e homem com atividades que requer mais força e atividade braçal, o
que posiciona e caracteriza o homem como mais forte e capacitado para área",
afirma o cientista.
Para 2015, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República pretende continuar com o programa "Meninas e Jovens Fazendo
Ciências Exatas, Engenharias e Computação" e aumentar ainda mais a
participação e inclusão. Alguns projetos estão sendo planejados pela UNICEF
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) junto com a UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o IIDAC (Instituto
Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania), como o "Seminário
Internacional de Empoderamento de Meninas", que visa aumentar a participação
das estudantes em projetos de participação social, e tem como uma das pautas
a participação em áreas ocupadas em sua maioria por homens, como a
mecânica e a elétrica a nível internacional, observando que esse é um problema
não só nacional, mas também mundial.
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