terça-feira, 15 de março de 2016

Lugar de mulher é na oficina: Quebrando Paradigmas


Por: Camila de Jesus Oliveira

Nos últimos anos, a mulher tem se inserido cada vez mais nas diversas áreas do mercado de trabalho; elas conquistaram vários espaços e se mostraram eficientes para lidar com as mais variadas situações das quais em sua maioria eram realizadas por homens. É inegável o quanto a mulher tem se emancipado e ganhado confiança para enfrentar e lidar com o machismo na sociedade e, principalmente, nos campos de atuação. Porém, segundo dados referentes a matrículas nas universidades, as mulheres ainda são minoria nas áreas de exatas e engenharia nas universidades e no mercado de trabalho, além de receber menores salários. Para corrigir essas discrepâncias vários países adotaram programas que incentivam as novas gerações de mulheres a fazerem escolhas profissionais nas áreas científicas e tecnológicas. 

O machismo, apesar de todos os avanços que o movimento feminista tem conquistado e o processo de modernização da sociedade, ainda é muito presente nos mais diversos espaços, o que tem dificultado a escolha de muitas estudantes sobre qual área de atuação escolher para cursar na universidade. Ainda há muito à avançar, muito espaço para conquistar e, prioritariamente, coragem para ocupar esses lugares, é o que dizem as mulheres que cursam e atuam na área de mecânica da UFS (Universidade Federal de Sergipe), elas afirmam que por diversas vezes se sentem oprimidas e confusas quanto a seu espaço nessa área de atuação.

Para muitos, ainda há uma divisão entre área de atuação de homem e de mulher. Segundo o site do SISU, dos aprovados para o período de 2015.1 de Engenharia Mecânica da UFS, os homens ocuparam 85% das vagas, contra apenas 15% das mulheres. Já em cursos da área de saúde, como Fonoaudiologia, os números são bem diferentes: cerca de 82% das vagas do curso é formado por mulheres, e apenas 18% de homens. Segundo levantamento de 2013 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mulheres representam apenas 5,1% das matrículas nas áreas de engenharia e 3,7% nas áreas de física, matemática e ciências da terra. As mulheres receberam, em média, 72,3% do salário dos homens em 2014, segundo o estudo 'Mulher no mercado de trabalho: perguntas e respostas', divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. O número repete a proporção encontrada nos levantamentos de 2012 e 2013.

Para diminuir essa situação, alguns programas foram criados com o objetivo de incluir e motivar as estudantes a não se oprimir diante dessa realidade. Em 2013, foi criado o programa: ‘Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação", uma iniciativa da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em parceria com a Petrobras, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tinha como missão despertar nas educandas o interesse por carreiras nas áreas de ciências exatas, engenharia e computação, já que a escolha da profissão pelo sexo feminino obedece ao papel definido pela sociedade e com essa iniciativa eles querem mostrar às meninas e jovens que elas são capazes e podem atuar como engenheiras e matemáticas, por exemplo. Na UFS, foi criado o projeto: "Lugar de mulher é na oficina: Quebrando Paradigmas", pela professora Alessadra Gois Luciano de Azevedo, que tem como objetivo motivar, qualificar, estimular e desenvolver o espírito de engenharia nas alunas de ensino médio e de graduação, com o propósito de formar profissionais capacitadas a atuarem com novas tecnologias de desenvolvimento de projetos, no mercado de trabalho e em pesquisas cientificas. 

Para a maioria das estudantes de Engenharia Mecânica da UFS, a dificuldade não está nas disciplinas ofertadas pelo curso, e sim no número pequeno de mulheres inseridas nele e no machismo por trás desse pequeno número. Na escolha do curso foram desestimuladas e, por diversas vezes, ouviram frases do tipo "mecânica não é pra mulher, porque não cursa algo da área de saúde?", mas persistiram e não se oprimiram diante dessa realidade. A estudante de Engenharia Mecânica da UFS, Stefany Moreira, afirma que a existência de projetos que estimulem a participação feminina nessas áreas de atuação é um grande avanço para acabar com o machismo que existe na universidade, e que se sente orgulhosa de fazer parte de um grupo pequeno de mulheres que resistiram a esse fato e continuam firmes na mecânica. 

O cientista social Cassio Murilo, diz que "essa desigualdade existe por conta do machismo ainda presente na sociedade." Mulheres preferem ocupar cursos de saúde por ser uma área que tem como principal objetivo cuidar do próximo, e homens cursos como mecânica por estar ligado a uma área que aparentemente requer mais força física e atividade corporal; "é estimulada a visão que mulher tem que lidar com áreas que requer fragilidade, característica do gênero feminino, e homem com atividades que requer mais força e atividade braçal, o que posiciona e caracteriza o homem como mais forte e capacitado para área", afirma o cientista.

 Para 2015, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República pretende continuar com o programa "Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação" e aumentar ainda mais a participação e inclusão. Alguns projetos estão sendo planejados pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) junto com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o IIDAC (Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania), como o "Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas", que visa aumentar a participação das estudantes em projetos de participação social, e tem como uma das pautas a participação em áreas ocupadas em sua maioria por homens, como a mecânica e a elétrica a nível internacional, observando que esse é um problema não só nacional, mas também mundial. 

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